Diante da digitalização e pela nova percepção de riscos impostas à economia pela pandemia, o mercado de seguros está se movimentando em busca de inovação. O quadro é oportuno para o lançamento do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros (IISR), pela Fundação Getulio Vargas (FGV), em colaboração com a BMG Seguros e outras entidades.
A Cultura de seguros no Brasil ainda tem muito a crescer. A participação da indústria de seguros sobre o PIB, de 6,7%, ainda é baixa. Em um dos segmentos mais desenvolvidos, o de automóvel, por exemplo, estatísticas apontam que menos de 30% da frota brasileira está segurada.
De acordo com o CEO da BMG Seguros, Jorge Sant´Anna, o IISR nasce de uma observação não só sobre o potencial econômico brasileiro, mas também sobre o volume de informações dispersas pelo mercado que não são aproveitadas para gerar inteligência competitiva, além de uma legislação considerada ultrapassada. “O mercado de seguros já sofre há muito tempo com legislações não muito pró-negócios. Nessa atual gestão começou uma série de desafios vindos do regulador para fazer o mercado inovar e crescer. As modalidades do Open Insurance e o SRO estão chegando e o Pix, que embora esteja no setor de pagamentos, impacta diretamente na democratização do setor de coberturas.
Então, não se pode mais ser tradicional. Não temos mais espaço para isso. Existe um novo modelo de financiamento de infraestrutura em que o poder público vem sendo substituído pelo setor privado. Acontece que o investidor privado exige garantias. Então a modernização do setor de seguros é urgente. O Instituto nasce para dar um olhar científico voltado para a prática. Precisamos criar um pensamento de seguros que seja ligado à necessidade do setor como habilitador de infraestrutura. Ou pensamos no mercado e não nos players ou não vamos convencer ninguém da necessidade de modificar a regulação”, explica Sant´Anna.
A ideia é reunir o maior número de players do setor, universidades, pesquisadores independentes e entidades do setor, tornando o IISR um fórum para discussão de novas ideias no setor. No lançamento já foram divulgados os dois primeiros projetos: a Susep – órgão responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro – fará o seu primeiro concurso de monografias e o Instituto é um dos patrocinadores. Também será criada uma econometria para o mercado de seguros. “No comitê gestor é preciso ter esta
pluralidade de pensamentos, não só para o mercado de seguros, mas com um conceito de isenção intelectual muito grande.
Nesse ponto sobressai a importância da FGV. O Instituto não podia parecer uma federação porque não queremos proteger a indústria, mas proteger os seguros. É a primeira vez que teremos pesquisando e escrevendo especialmente para o setor de seguros no Brasil”, pontua.
Novas modalidades estreiam na pandemia
Diante do mesmo susto e necessidade de inovar experimentado por outros setores ao longo da pandemia, o mercado de seguros também segue apresentando novas propostas para os clientes. Um dos modelos de negócios que vem ganhando força é o seguro em formato de assinatura, em que o cliente paga mensalidades que podem ser suspensas por determinados períodos. A Porto Seguro lançou nos mercados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, o Bllu.
O novo seguro auto permite ser contratado de uma forma 100% digital pelo cliente, mas ainda assim a assinatura estará atrelada ao corretor de seguros, que também comercializará o produto. O Bllu também conta com um pagamento mês a mês em valor acessível e pode ser pago por meio de cartão de crédito recorrente, sem o comprometimento do limite.
O produto atende veículos de passeios nacionais e de utilização particular, com até 25 anos de uso e de até R$ 50 mil De acordo com o diretor-executivo da Azul Seguros – empresa do Grupo Porto Seguro -, Gilmar Pires, o Bllu vinha sendo pensado há dois anos. “Não é um produto da pandemia mas foi, certamente, acelerado por ela. Mais de 70% dos veículos que rodam no Brasil não têm seguro, mas uma grande parte deles é segurável. O carro é uma coisa que o brasileiro gosta, demonstra uma ascensão social e não é um bem barato. Vale a pena protegê-lo. A pandemia acelerou a questão digital. Todo mundo aprendeu a usar os meios digitais. O Bllu é uma compra digital, simples, fácil, por meio do site, que exige poucas informações, facilitando a vida do consumidor que continua tendo o corretor à disposição para qualquer informação a mais”, explica Pires.
O Bllu conta com coberturas contra colisão, roubo e furto, incêndio e alagamento (com valor predeterminado no bilhete de seguro, em que o cliente sabe o quanto receberá em caso de sinistro), danos corporais e materiais a terceiros de R$ 20 mil e a cobertura para vidros, que é opcional. Além disso, tem assistência 24h para o carro, com serviço de guincho para até 400 quilômetros, chaveiro e troca de pneu. Apesar da crise econômica, o executivo aposta no aumento da percepção de riscos por parte dos consumidores para garantir as vendas.
Os números atuais da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) estão a seu favor. Dados da Conjuntura CNSeg nº 41, mostram que a arrecadação do Setor de Seguros no primeiro bimestre deste ano cresceu 4,5%, contra o mesmo período de 2020, quando não havia pandemia. A arrecadação do mês de fevereiro de 2021 foi de R$ 22 bilhões.
“O Bllu é pra quem não tem seguro. Não é para tirar de uma outra seguradora, não tem bonificação. Ele oferece todas as coberturas tradicionais. A venda é mais difícil, mas a percepção de proteção do bem aumentou durante a pandemia. Isso faz parte de um trabalho gradativo educacional que o setor realiza. Nem todas as perguntas surgidas ao longo da pandemia estão respondidas. A assinatura parece um modelo que vai ficar. Apostamos na fidelidade baseada na satisfação do cliente, não na força do contrato ou penalidade”, completa o diretor-executivo da Azul Seguros.
Fonte: Diário do Comércio